Velho cusco do meu pago, melhor amigo do homem
Raras vezes ganha um nome, se não é cusco não mais
Cresce tão longe dos pais no mais cruel abandono
Fiel guardião do seu dono, o mestre dos animais
Eu te admiro cusco por ver neste teu latido
Um grito assim parecido de um peão parando o rodeio
No teu uivo o anseio de alguém que a saudade aperta
Rondando a noite deserta, cuidando tareco alheio
Tu vales numa tropeada por peão e meio talvez
Dois cuscos valem por três peões bem forte a cavalo
Sem cansaço e sem abalo viaja de pelo a pelo
És um firme sinuelo desde as cantigas do galo
No grito, vamos embora, és o primeiro da frente
Pulando, acuando contente como quem vai pra uma festa
Se teu dono enruga a testa e grita, pega esse touro
Tu saltas mordendo o couro do bicho que desembesta
Por isso quando te vejo passando pela calçada
Numa carcaça acabada de cusco velho sem trato
Me vem na mente o retrato de muitos ex-grandes homens
Que estão nas garras da fome neste mundo tão ingrato